"Tanto
cirurgiões como pilotos são profissionais altamente qualificados,
trabalham em ambientes tecnológicos e o seu negócio é lidar com a vida
as pessoas, no sentido de as proteger, mas a cultura do erro é muito
diferente nestas duas profissões", considerou, em declarações à Lusa, o
médico Costa Maia.
Segundo
o cirurgião, a ideia é a de que as equipas de profissionais que estão
num bloco operatório (médicos, enfermeiros, etc.) aprendam com os
pilotos a sua "cultura de segurança".
"Na
aeronáutica, usa-se o erro sem culpa, reporta-se o erro no sentido de o
evitar. Na medicina, esconde-se o erro e tenta-se arranjar desculpas
para não o relatar", admitiu o cirurgião.
Reduzir
complicações e mortes, tendo por base procedimentos de segurança
seguidos na aviação, como listas de verificação (checklist), por
exemplo, é o grande objetivo desta troca de experiências entre pilotos e
profissionais de saúde.
"É
uma maneira lúdica de fazer um paralelismo entre a cultura de segurança
estabelecida na aeronáutica e o nosso modelo de trabalho", sustentou o
médico, que deseja que os profissionais de saúde percebam o quanto é
importante "a comunicação, o diálogo e a cultura do erro, para o evitar e
não culpabilizar pessoas".
Num
cockpit de um avião, comandante e copiloto trabalham em equipa, "com
rigor e disciplina" e quando um erro é cometido "é obrigação
reportá-lo", disse à Lusa o comandante Armindo Martins.
"Se
não reportar o erro o parceiro do lado irá fazê-lo e esta envolvência
é, para nós, natural. Assim se evita que o erro se repita. A realidade
dos médicos é diferente, porque não têm cultura de reporte", disse.
Para
o médico, "é preciso promover a comunicação entre todos num bloco
operatório, dando uma uniformidade de linguagem aos elementos da
equipa", à semelhança do que também acontece na aviação.
Em
2010, com base em documentação da Organização Mundial de saúde (OMS), a
Direção-Geral de Saúde emitiu uma circular normativa referente à
implementação em todos os blocos operatórios do programa "Cirurgia
Segura Salva Vidas", com a aplicação de uma lista de verificação de
segurança cirúrgica.
Estas
listas de verificação "não são protocolos de atuação, são oportunidades
de verificar que os protocolos foram cumpridos", disse o médico,
salientando, contudo, que seguir o rol de procedimentos "ainda aparece
como uma coisa a mais" para muitos profissionais.
O
cirurgião lembrou ainda que os pilotos são avaliados anualmente, bem
como necessitam de uma determinada qualificação para voar um avião
específico.
"Nós
também devíamos ser avaliados, porque seria importante provar que se
tem condições para ser cirurgião. Ter certificação específica para cada
área era também importante", defendeu.
Para
este encontro, que reunirá cerca de uma centena de profissionais de
saúde daquela unidade hospitalar, Armindo Martins abordará temas como
cultura de segurança, comunicação, gestão de conflitos, carga de
trabalho, liderança e espírito de equipa.
De
acordo com estatísticas internacionais, a probabilidade de morte devido
a um evento adverso durante um ato cirúrgico é de um para 100, enquanto
a probabilidade de morte num acidente de aviação é de um para 10
milhões.
Diário Digital/Lusa
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