quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Escassez de pilotos ameaça empresas aéreas dos EUA

As companhias aéreas dos Estados Unifdos enfrentam uma falta de pilotos que ameaça ser a mais grave desde os anos 60, agora que novas exigências quanto à experiência de recém-contratados estão prestes a entrar em vigor, justamente quando o setor se prepara para uma onda de aposentadorias.

A partir de meados do ano que vem, só poderão ser contratados pilotos que tenham no mínimo 1.500 horas de voo — ou seja, seis vezes o mínimo atual — elevando os custos e o tempo de treinamento de novos pilotos, em uma época em que cortes salariais e horários mais cansativos já tornaram a profissão menos atraente. Isso vale mesmo para quem vai trabalhar como co-piloto, e não comandante da aeronave.


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Emily Berl para The Wall Street Journal
Novas exigências vão atrasar a carreira de pilotos como John Adkins, que quer trabalhar na aviação comercial









Novas exigências vão atrasar a carreira de pilotos como John Adkins, que quer trabalhar na aviação comercial
Ao mesmo tempo, milhares de pilotos experientes em grandes aéreas em breve chegarão aos 65 anos, idade da aposentadoria obrigatória.
Outra norma americana de segurança, que entrará em vigor no início de 2014, também vai reduzir a oferta de profissionais, ao exigir mais tempo de descanso diário para os pilotos. Essa mudança deve obrigar as companhias aéreas de passageiros a aumentar seu contingente de pilotos em pelo menos 5%.

Para piorar, há uma migração pequena, porém constante, de pilotos americanos para outros países em que também faltam pilotos e onde as empresas pagam excelentes salários para conseguir pilotos americanos bem treinados.
"Isso vai acabar gerando uma crise", disse Bob Reding, que até recentemente era vice-presidente executivo de operações da American Airlines, empresa da AMR Corp., e agora é consultor da FlightSafety International Inc., firma de treinamento de aviação.

Acrescentou Kit Darby, consultor em tendências de contratação de pilotos: "Estamos a uns quatro anos da solução, mas a apenas uns seis meses do problema".
As estimativas diferem quanto à magnitude da crise. A Airlines for America, grupo setorial das maiores aéreas, que no momento empregam, em conjunto, 50.800 pilotos, cita um estudo feito pelo departamento de aviação da Universidade de Dakota do Norte indicando que as principais aéreas precisarão contratar 60.000 pilotos até 2025 para substituir os aposentados e cobrir sua expansão.

A firma de Darby calcula que todas as companhias aéreas americanas, incluindo as transportadoras de carga, as de voo fretado e as regionais, empregam um total em torno de 96.000 pilotos e terão que encontrar mais que 65.000 nos próximos oito anos.
Nos últimos oito anos, pouco menos de 36.000 pilotos passaram pelo teste mais alto da Administração Federal de Aviação dos EUA, a FAA. O exame agora será obrigatório para todos os pilotos, conforme as regras impostas pelo Congresso americano.

Para os passageiros, o maior impacto deve ocorrer nas operadoras menores, regionais. Tradicionalmente, elas são um campo de treinamento de pilotos que vão alimentar as aéreas maiores.
"Se não houver alguma mudança radical na oferta" de pilotos, as comunidades pequenas e médias "correm o risco de perder alguns, se não todos, os seus voos regulares", disse Roger Cohen, presidente da Associação Regional das Companhias Aéreas, em um discurso em julho.
As novas regras são um atraso para a carreira de muitos americanos. "Vou ter de ser instrutor de voo por mais um ano", disse John Adkins, um piloto de 27 anos na Academia de Voo da Califórnia. Ele já obteve o atual mínimo para ser um co-piloto, mas agora vai ter de esperar mais para trabalhar numa companhia aérea. "Não se ganha muito sendo instrutor", disse ele.

Fenômeno semelhante ocorreu no Brasil, segundo Daniel Ribas, diretor de comunicações da Associação Brasileira de Pilotos da Aviação Civil. Segundo ele, o recente enfraquecimento da economia reduziu a necessidade de pilotos, mas ele acha que falta treinamento adequado no país, o que poderia levar à escassez de pilotos no futuro. "O nosso problema não é a falta de pilotos brasileiros, mas a falta de pilotos qualificados," disse Ribas.
No Brasil é comum exigir 1.500 horas de voo, mas só para comandar o avião. Essas horas podem ser acumuladas trabalhando-se como co-piloto, já que este também pode pilotar o avião.
Já nos EUA, o problema é agravado pela idade dos pilotos.

Mais da metade dos pilotos americanos tem mais de 50 anos, disse o consultor Darby, reflexo de uma alta nas contratações nos anos 80 e uma baixa nos últimos dez anos.
Em 2007, para colocar os EUA em linha com alguns outros países, os reguladores retardaram a idade de aposentadoria compulsória de 60 para 65 anos. Segundo algumas estimativas, 80% dos pilotos de 60 anos nos EUA estão permanecendo mais tempo na ativa. Mas, em dezembro, os primeiros que prolongaram suas carreiras começarão a fazer 65.

No Brasil, a obrigatoriedade de aposentadoria aos 65 anos só se aplica aos voos internacionais. É comum pilotos que ultrapassam esse limite serem transferidos para as rotas domésticas e continuarem voando, disse Ribas, da Abrapac.
Depois de uma década de consolidação e reestruturação, algumas grandes aéreas americanas planejam recomeçar a contratar. A Delta Air Lines Inc. estima que precisará de 3.500 novos pilotos nos próximos 10 anos só para manter suas fileiras em 12.000, sem incluir qualquer crescimento. A American Airlines informou recentemente que pretende acrescentar 2.500 pilotos nos próximos 5 anos. A United Continental Holdings Inc. começou a receber currículos para algumas vagas na sua subsidiária Continental.

Dave Barger, diretor-presidente da JetBlue Airways Corp., disse em um discurso em outubro que o setor está "diante de um êxodo de talentos nos próximos anos" e que pode "acordar um dia e descobrir que não temos ninguém para operar e manter os aviões".
Há limites na capacidade das aéreas americanas, especialmente as regionais, de atrair mais pilotos mediante maiores salários. Embora a solidez do setor tenha melhorado nos últimos anos, muitas companhias ainda operam com margens de lucro mínimas, imprensadas entre o aumento do custo dos combustíveis e a demanda instável por parte de clientes sensíveis aos preços.

Dan Garton, diretor-presidente da American Eagle, divisão regional da AMR, disse que a questão "vai ficar muito mais visível quando as aéreas regionais tiverem que diminuir seus voos" por falta de pilotos, e algumas cidades menores perderem seu serviço aéreo.
Embora nenhuma entidade registre a quantidade total de alunos nas 3.400 escolas de voo do país, os dados da FAA mostram que os números de certificados anuais de piloto privado e comercial — ambos necessários para ser piloto de companhia aérea — caíram 41% e 30%, respectivamente, nos últimos dez anos. A Associação Nacional dos Instrutores de Voo afirmou, em uma pesquisa publicada este ano, que "não há nenhuma maneira viável [...] de suprir continuamente a demanda das companhias aéreas por pilotos qualificados".

A lei aprovada no Congresso em 2010 que exige 1.500 horas de experiência a partir de agosto de 2013 veio na esteira de vários acidentes com aéreas regionais, apesar de que nenhum foi devido ao fato de que o piloto tinha menos de 1.500 horas de voo.

(Luis Garcia, SUSAN CAREY, JACK NICAS e ANDY PASZTOR)

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